Reflexão feita por Luis Eduardo Frin acerca de nossa participação no FESTA 57 – Festival de Santos - no dia 08 de setembro de 2015.
Coletivo Negro: Teatro
de Verdade
Por Luiz Eduardo Frin
Em cena, o filho interpela o pai por ele ter abandonado a família. A voz do filho é a voz do ator, a do pai: os acordes de uma guitarra. Esse é apenas um dos exemplos, talvez o mais pungente, de como o Coletivo Negro imbricou texto, cena e música na construção dramatúrgica de {ENTRE}, apresentado na noite de 08 de setembro no Festa 57.
O espetáculo, que é uma peça de teatro, um show, um baile, ou um encontro no qual dois amigos tomam um café, mescla narrativas distintas em enredo que, mesmo constituído sobre diferentes histórias e diferentes estéticas, prima pela unidade.
Para isso, foi extremamente feliz a opção de situar a ação em um conjunto habitacional. As portas de apartamentos vizinhos do cenário são abertas, fechadas, unidas, derrubadas e até desmaterializadas simbolicamente durante a encenação. Assim, fica claro que, no contexto apresentado, as fronteiras são difusas. As falas, as brigas, as lutas transpassam paredes-meias e atestam que a história de um, é a de todos.
E que história é essa? É a dos que lutam para romper pressupostos definidos antes do próprio nascimento. Dos que lutam para nascer de verdade e ser senhores dos seus destinos. O Coletivo Negro se define como “grupo de afro-descentes comprometidos com a investigação cênico-poética do imaginário construído em relação ao negro brasileiro”. Agora, como se não bastasse trabalhar artisticamente de maneira tão inspirada questões de fundo étnico-racial, o grupo vai além ao abrir um caleidoscópio imagético, sensorial e reflexivo que toca a todos que, de alguma maneira, percebem-se cerceados por estruturas sociais cristalizadas que prejulgam, qualificam, estereotipam... Matam. Simbólica e realmente.
{ENTRE} é um daqueles felizes exemplos que a crítica a aspectos técnicos da encenação é, absolutamente, irrelevante. Isso por que, ali, o show foi só um pretexto para que as portas, as couraças endurecidas daqueles que, como na música: “não vivem, apenas aguentam”, se abrissem para a comunhão de sentimentos, angústias, alegrias e reflexões. Compartilhamento capaz de transformar vidas... E isso é teatro.
Por Luiz Eduardo Frin
Em cena, o filho interpela o pai por ele ter abandonado a família. A voz do filho é a voz do ator, a do pai: os acordes de uma guitarra. Esse é apenas um dos exemplos, talvez o mais pungente, de como o Coletivo Negro imbricou texto, cena e música na construção dramatúrgica de {ENTRE}, apresentado na noite de 08 de setembro no Festa 57.
O espetáculo, que é uma peça de teatro, um show, um baile, ou um encontro no qual dois amigos tomam um café, mescla narrativas distintas em enredo que, mesmo constituído sobre diferentes histórias e diferentes estéticas, prima pela unidade.
Para isso, foi extremamente feliz a opção de situar a ação em um conjunto habitacional. As portas de apartamentos vizinhos do cenário são abertas, fechadas, unidas, derrubadas e até desmaterializadas simbolicamente durante a encenação. Assim, fica claro que, no contexto apresentado, as fronteiras são difusas. As falas, as brigas, as lutas transpassam paredes-meias e atestam que a história de um, é a de todos.
E que história é essa? É a dos que lutam para romper pressupostos definidos antes do próprio nascimento. Dos que lutam para nascer de verdade e ser senhores dos seus destinos. O Coletivo Negro se define como “grupo de afro-descentes comprometidos com a investigação cênico-poética do imaginário construído em relação ao negro brasileiro”. Agora, como se não bastasse trabalhar artisticamente de maneira tão inspirada questões de fundo étnico-racial, o grupo vai além ao abrir um caleidoscópio imagético, sensorial e reflexivo que toca a todos que, de alguma maneira, percebem-se cerceados por estruturas sociais cristalizadas que prejulgam, qualificam, estereotipam... Matam. Simbólica e realmente.
{ENTRE} é um daqueles felizes exemplos que a crítica a aspectos técnicos da encenação é, absolutamente, irrelevante. Isso por que, ali, o show foi só um pretexto para que as portas, as couraças endurecidas daqueles que, como na música: “não vivem, apenas aguentam”, se abrissem para a comunhão de sentimentos, angústias, alegrias e reflexões. Compartilhamento capaz de transformar vidas... E isso é teatro.
Sobre a existência pisada ou a palavra como rito no Coletivo Negro
Por Rudinei Borges.
Em raptos de um escrito tardio, voz que adentra a madrugada, é que recordo – meses depois – uma travessia, do centro antigo de São Paulo até a Penha, onde vi {Entre}, a última montagem cênica do Coletivo Negro. Mas a travessia volveu-se em mim, como quem desvia do espelho o olhar e, mesmo assim, termina por enxergar vertigens de uma existência pisada.
A obra dirigida por Aysha Nascimento e Raphael Garcia, em sendas estreitas, com dramaturgia de Jé Oliveira, concatena a palavra como deformação ao adentrar a completude do poema como quem procurasse o eco. Dizer não é suficiente. É preciso acolher partes, excertos. A derivação da palavra inaugural é o que interessa, ato de investigação do sussurro e do berro – em microfones, caixa de sons.
Já no movimento hip hop, a poesia é vertida nesta busca pelos inúmeros significados da palavra e, mais ainda, nas muitas possibilidades da palavra falada e cantada. Aliás, são estas probabilidades que vertem o movimento em dança e injetam em {Entre} elementos da ritualística afro-brasileira. Neste sentido, não nos causa nenhum estranhamento que a peça seja acompanhada por uma banda, formada pelos músicos Fernando Alabê e Cássio Martins, que utiliza de instrumentos musicais eletrônicos a marimbas – algo que evoca alguma ancestralidade. O que é mais peculiar em {Entre} é a ritualização da palavra.
Outros grupos brasileiros de teatro têm investido nesta pesquisa de ritualização da palavra, tendo como referencial o movimento hip hop. Este é o caso do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos que tem realizado trabalhos de alcance ímpar a partir da dramaturgia de Claudia Shapira, poeta das mais inventivas de nossa atualidade.
No Coletivo Negro, é notável este processo desde a montagem de Movimento número 1: o silêncio de depois… com dramaturgia de Jé Oliveira. Por meio da ritualização da palavra, Oliveira investe na transgressão da narrativa para contar histórias de prélio e coragem. Do negro brasileiro, sobretudo. Com isso, tem realizado um trabalho de criação dramatúrgica dos mais relevantes no cenário teatral paulistano.
O eixo temático da peça, a existência pisada que {Entre} desvela, está calcado na esforçosa missão de compreender o esfacelamento da família negra. Todavia, há algo consideravelmente desafiador que é a investigação dos corpos acumulados, deglutidos em um espaço comum. A precariedade do espaço de habitação e a precariedade das relações chama a atenção.
Nada é mais deflagrador da miserabilidade humana que o rosto derruído daquele pai, interpretado por Jefferson Matias, abrindo e fechando portas, como um Joseph K. que, em O castelo de Franz Kafka, não chega a lugar nenhum. Ou o olhar perdido do médico prodígio, interpretado por Flávio Rodrigues. Este ator impetra, numa dança com as palavras, certo estado de desesperança que traduz o que há de mais sofrido no itinerário e lida de nossa gente.
A peça ganha – e muito – com o trabalho audaz de Thaís Dias, em sentidos vários. Thaís, vestida por uma indumentária branca, ritualiza a palavra, o corpo e a cena numa investidura interpretativa que leva a cena ao alcance de significados multiformes, espécie de Pietá (piedade) negra, Nossa Senhora revolucionária que empresta à montagem algo da valentia feminina. A mulher grávida e abandonada interpretada por Thaís aparece como referência da vida da mulher negra no Brasil. No entanto, a mulher vivida pela atriz não sucumbe às ferocidades, pondo-se em pé na peleja por uma existência digna. Fico a pensar em quão arrebatador será o trabalho desta atriz, uma vez alcançando a maturidade.
Há muitas questões de caráter sociológico evocadas em {Entre}. Nota-se o anseio por avistar os fenômenos sociais que as famílias negras defrontam nas cidades, sobretudo. Porém, mais que uma peça-protesto, {Entre} é uma obra revigoradora, uma vez que não abandona a subjetividade dos seres. Não os põe como parte uniforme da multidão, ao contrário. A peça elucida o trucidamento psicológico do ser humano negro num país de contrastes sociais aterradores de um modo pouco visto num teatro que se pretende político.
{Entre} configura espécie de auto de natal, em que a espera pelo nascimento alude também ao anúncio da chegada de um tempo de esperanças. Fez-me lembrar certaMorte e Vida Severina protagonizada por atores negros. Os personagens de {Entre} rememoram a travessia árdua daquele Severino retirante do poema de João Cabral de Melo Neto.
Fez-me recordar também da Missa dos Quilombos. A celebração criada por Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, com música de Milton Nascimento, aconteceu no dia 20 de novembro de 1981 em Recife (PE). Com participação de público de 8 mil pessoas, a missa denunciou os males da escravidão e do racismo.
{Entre} alcança a poesia dos sonhos que são perdidos dia a dia no turbilhão das cidades de um modo vivificador em encenação, como se pusesse um espelho dentro da mente e do coração dos anti-heróis que protagonizam a peça. Diante dos cegos, este espelho reflete, em fractais, sussurros de vidas que bradam por ser vividas com alguma plenitude. Um trabalho de fôlego.
§
Rudinei Borges – Poeta, dramaturgo e ficcionista. Autor dos livros “Chão de terra batida” (poesia), “Dentro é lugar longe” (dramaturgia) e “Teatro no ônibus” (pesquisa). Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Formou-se em Filosofia. Ator e diretor do Núcleo Macabéa. Editor da Alzira Re(vista). Nasceu em Itaituba, Pará.
Algumas reflexões da professora Dra. Iná Camargo Costa, na ocasião da pré-estreia, ocorrida dia 14 de julho de 2011, do espetáculo do Coletivo Negro: “Movimento Número 1: O Silêncio de Depois...”.
Quando
o Jé me pediu pra vir aqui, ele queria que eu desse uma de professora, coisa
que eu não sou mais. Eu falei que eu não ia falar do Abdias e do Teatro
Experimental do Negro mas só comentar o que vocês apresentassem. E acho que
vocês já falaram dele, não sei com que grau de consciência. Aquela entrada do
Jefferson Matias é uma referência a ele, quando disse que se trata de pegar a
tecnologia dos brancos e fazer reverter a nosso favor. Mas ao mesmo tempo é uma
colocação irônica, porque o enunciador da questão acredita em progresso, mas a
cena mostra que é uma crença irônica, porque também mostra progresso como um
trator vindo pra cima de nós. Em todo caso, aqui tem uma reflexão a fazer sobre
o Abdias.
Quando
o Abdias propôs o Teatro Experimental do Negro, ele de fato achava que era o
caso de usar essa instituição branca falida, o teatro burguês convencional,
para examinar a problemática do negro no Brasil. E sua trajetória enfrentou
muitos paradoxos.
Esses
paradoxos precisam ser examinados, porém no seu direito. Para vocês terem
ideia, uma das primeiras pessoas perseguidas pela ditadura instalada no Brasil
em 64, foi o Abdias do Nascimento. Então vejam: a nossa sociedade tem um nível
insuportável, até hoje (imagine na década de 40!), de racismo e de ódio a tudo
o que coloque a simples presença do negro em cena. Qualquer que seja ela. É uma
coisa tão aterrorizante porque a nossa classe dominante sabe os crimes que
cometeu desde o início do tráfico e não quer pagar essa conta, muito menos
receber a fatura. Não vai fazer isso por bem!
A
tentativa do Abdias de fazer um teatro convencional em palco italiano, com peça
escrita por Nelson Rodrigues (ele mesmo um racista), por exemplo, é um dos
pontos problemáticos da História.
Mas o
simples fato dele ter tentado organizar os negros em elenco teatral, com todas
as implicações sociais e políticas que isso tinha na época (e continua tendo),
foi o suficiente para colocar o nosso Abdias do Nascimento na lista negra dos
primeiros a serem perseguidos pela ditadura. O outro lado dessa questão está
examinado no trabalho de vocês. Não se trata de encenar o Anjo Negro, mas talvez a peça da qual o Anjo Negro provém mereça uma reflexão, um estudo. É uma peça do
Eugene O’Neill, que se chama Todos os
Filhos de Deus têm Asas. Esta peça sim, examina as contradições de uma
sociedade racista como a americana de um ponto de vista crítico à sociedade
capitalista que se construiu pela exploração do trabalho dos negros
escravizados. E isso não tem na peça de Nelson Rodrigues, porque ele
normalmente estraga o material com que trabalha.
O’Neill
faz um estudo das contradições entre brancos e negros nos Estados Unidos de um
ponto de vista anti-racista e expõe a conta que se apresenta para o branco
também. Porque O’Neill era socialista.
O
trabalho de vocês tem um cuidado especial com as vozes, no sentido de
polifonia. São vozes que expõem diferentes aspectos da experiência de negros
que viveram ao longo do século XX. São todas experiências do século XX
especificamente, embora tenha referência ao Zumbi, que é de luta e resistência.
Este trabalho, já pela forma, rejeita aquela tradição à qual o Abdias queria se
integrar, aquela tradição européia, ocidental, branca, que rejeitou o TEN
(Teatro Experimental do Negro), que não conseguiu sobreviver por muito tempo.
Acho que já em 64 ele praticamente já não existia mais. Ele teve pouco tempo de
atuação.
Ao
escolher esse formato de roda e o formato dos depoimentos, as diferentes vozes,
com um Griô que coordena e produz essa costura de vozes, acho que vocês já
deram um grande salto na busca de respostas aos desafios que estão postos para
negros que querem fazer teatro.
Vocês
já responderam à primeira pergunta da maneira mais acertada: “o teatro que nós
vamos fazer se chama teatro, sem dúvida mas, para começo de conversa, nós
queremos a roda”.
No
texto do programa vocês dizem também que desenvolveram a questão da
não-hierarquia. “Não queremos hierarquia”, está dito. E cumpriram rigorosamente
a promessa: não estabeleceram hierarquia na cena, nem entre cena e
interlocutores. Acho que isso é um
acerto. Gol de placa, mesmo.
Um
ponto interessante, para mim, é que a matéria que vocês colocam em cena está
presente nos trabalhos que eu tenho visto nos últimos 5 ou 8 anos. E tem um
recorte racial, mas ele é, antes de mais nada, social. Para mim, isso é um
avanço.
A
organização do material mostra a crítica pesada que precisa ser feita, não
apenas às misérias que foram feitas pela sociedade “branca” desde a época dos
navios tumbeiros, mas às misérias que continuam sendo feitas, pois elas têm que
acabar.
Na
história da sambista que adere à perspectiva da ascensão social via relações
inter-raciais e, depois que “chega lá”, descobre que a sua comunidade foi
destruída, está cifrada uma importante chave crítica do trabalho como um todo.
Além do desastre pessoal isso implicou para ela, o seu caso leva a uma série de
perguntas que estão enunciadas. O núcleo temático aqui é a ideia de progresso
(e ascensão social), por isso eu destaquei o personagem Bêbado, que começa
falando na hipótese de se aproveitar do progresso. Para além da caracterização
do bêbado, que já diz muito, a peça acaba mostrando que, do ponto de vista
negro, até agora progresso só significou crime.
Tirar
conclusões a partir deste ponto a que chegou a peça, é tarefa que cabe a nós
que assistimos a esses depoimentos.
Não vou
tratar de questões técnicas, que sobre elas vocês próprios podem falar melhor
do que eu. Achei tudo muito legal.
E não
sei se vocês sabem, mas eu sou da fé de Xangô, e achei o máximo a pipa ter os
machados, que representam a justiça deste orixá. Essas imagens – pipa (que
sobe) com oxés – compõem uma idéia dá o que pensar (e pela qual vale a pena
lutar).
A qualidade e o lugar da presença (por Valmir Santos)
Um grupo que
saúda na mesma noite Abdias do Nascimento e Timochenco Wehbi já diz a que veio
sobre os assentamentos históricos e sociais da arte que abraça. Nascimento foi
cofundador do Teatro Experimental do Negro (TPN), projeto artístico pioneiro
realizado no Rio de Janeiro entre 1944 e 1961, com reflexos em muitos pontos do
país. Já a dramaturgia do prudentino Wehbi, sociólogo cuja densidade das peças
não ofusca uma poética libertária via imaginário, caso de Palhaços. Pois o
Coletivo Negro, de Mauá, na Grande São Paulo, evoca a causa antirracista como
coração do texto enquanto agrega ao corpo em cena/da cena procedimentos de uma
intervenção plena em plasticidades e sonoridades.
Na espiral
de tempo de "Movimento Número 1: O Silêncio de Depois...", o
presente, o passado e o futuro são embaralhados em narrativa conduzida por uma
voz ancestral africana, pela atriz Thais Dias, também ela uma “Antiga”, como se
diz na peça em relação de respeito aos antepassados. A criação vigorosa alinha
manifestações do canto, da palavra e da dança, aos quais valeria acrescentar o
olhar magnetizante. A dramaturgia concebida coletivamente, sob texto final de
Jé Oliveira, costura os percursos biográficos de uma mulher e dois homens.
Esses três cidadãos foram extraídos de seu território de origem, em suma, por
fatores como a truculência de agentes públicos, a ilusão amorosa e a falácia
economicista do progresso – leia-se especulação do mercado imobiliário.
Alternam-se os
planos ficcionais e documentais. Um filho rememora a consciência crítica do
pai, uma das lideranças resistentes da comunidade (pelo ator Jefferson Matias).
Cansada da relação corpo-objeto, uma mulher se enamora de um estrangeiro e vai
experimentar ser ela mesma, na pele e na alma, em outro país (por Aysha
Nascimento). Um terceiro rapaz conta como a liberdade de soltar pipas na
infância foi ceifada pela ação violenta de uma desocupação (por Raphael
Garcia).
Suas
histórias são literalmente atravessadas, vez ou outra, pelos solavancos do trem
que desliza pelos dormentes e faz menção a uma área desapropriada que virou
estrada de ferro e provocou a remoção de muitas famílias.
Os atores
desses fragmentos biográficos deixam transparecer o fio do tempo por meio da
gestualidade, dos adereços, objetos e figurinos. Os espectadores estão postados
rente à cena, numa arena adepta da tradição oral africana de narrar e
transmitir saberes ao pé do ouvido. Na apresentação no Sesc Thermas, esse
vínculo intimista foi ampliado para arquibancadas complementares e o elenco deu
conta de manter a ligação.
O espaço
cenográfico envolve bancos de madeira e três nichos/oratórios dos respectivos
personagens, demarcados por luzes azul, vermelha e branca (por Julio
Dojcsar>casadalapa e Wagner Antônio). A música ao vivo flui como coadjuvante
e protagonista nas pulsações rítmicas e ritualísticas (cordas e percussão por Fernanda
Camilo e Kauê Palazolli).
São poucos,
mas sobressalentes, os momentos em que as falas pendem para o discurso de
vitimização, desequilibrando uma obra ademais bem sustentada em seu conjunto em
termos de incisão e delicadeza. A fala-manifesto indignada soa mensagem
encerrada em si. Não
interpõe, constata. Diferente dos demais aspectos formais do espetáculo, a
começar pela qualidade da presença dos atores.
Natural a
veemência do discurso nessa que é a primeira montagem do Coletivo Negro (daí o
Movimento Número 1 do título). O trabalho dialoga com outros pares da produção
brasileira que possivelmente também transbordaram no tom de manifesto na
largada e, aos poucos, foram alargando os horizontes de elaboração, resultando
artisticamente mais categóricos. Citamos o núcleo baiano Bando do Teatro
Olodum, com o recente Bença. E os paulistas Clariô, com Hospital da Gente; Os
Crespos, com Ensaio sobre Carolina; Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, com Orfeu
Mestiço – Uma Hip-Hópera Brasileira; entre outros.
O Coletivo
Negro já usufrui clareza quanto ao lugar da arte do qual fala, toca e deseja
ser ouvido. E traz em seu ventre a percepção essencial de que a indignação pode
ser comunicada por meio de outros silêncios, sonoridades e respiros, calando
fundo e resistindo à pulverização das utopias.
Fonte: Assessoria de Impressa FENTEPP
Para a 8ª Mostra Cena Breve, o Coletivo Negro destacou uma cena de seu espetáculo "Movimento Número 1: O Silêncio de Depois", em que três personagens narram seus embates com a cultura branca dominante, cujo ápice do confronto ocorre durante a desapropriação de suas casas para a construção de uma linha de trem. "Linha Cortante", a cena conduzida pelo ator Raphael Garcia e apresentada em Curitiba, propõe desde o título uma metáfora entre a pipa do garoto que cortava livre o ar e a passagem do trem, que cruzará o território rasgando a organização familiar e comunitária e deixando mortos no caminho.
O saber do corpo
por Luciana Romagnolli
Para a 8ª Mostra Cena Breve, o Coletivo Negro destacou uma cena de seu espetáculo "Movimento Número 1: O Silêncio de Depois", em que três personagens narram seus embates com a cultura branca dominante, cujo ápice do confronto ocorre durante a desapropriação de suas casas para a construção de uma linha de trem. "Linha Cortante", a cena conduzida pelo ator Raphael Garcia e apresentada em Curitiba, propõe desde o título uma metáfora entre a pipa do garoto que cortava livre o ar e a passagem do trem, que cruzará o território rasgando a organização familiar e comunitária e deixando mortos no caminho.
O episódio revela desdobramentos das duas diásporas
negras - a primeira, causada pelo tráfico de escravos vindos da África; a
segunda, uma mobilidade até certo ponto voluntária, após o fim
do regime escravocrata. Com a desapropriação narrada, o Coletivo Negro aponta
para a dissolução dos laços de pertencimento imposta ao povo negro, seja
em relação à terra ou aos antepassados. O que morre, com a avó do
garoto, é parte de um saber transmitido não pela escrita, mas pelo corpo
(a oralidade, a dança, o movimento, a música, a pintura etc).
Um saber vinculado à performance, que a atriz
Thais Dias faz reconhecer com sua presença, intensificada nos
olhares penetrantes, na caracterização e na expressão corporal. Ela
personifica a ancestralidade africana associada às forças da natureza
(e é emblemático que sejam suas mãos o vento a tremular a pipa). Cria-se,
assim, o contraste entre sua figura e a de Raphael Garcia, cuja fala e
gestualidade carregam uma
concepção já "abrasileirada" de corpo e cultura, mas
cujo destino é afetado pelas diferenças raciais dentro do país.
O posicionamento crítico do grupo paulistano se manifesta
discursivamente nas memórias narradas pelo personagem do menino quando adulto,
num sobrepor de tempos que atesta o fim da inocência, mas se alastra sobretudo
pelas imagens, gestualidades, objetos, músicas e ruídos, que estabelecem a
teatralidade. A afetação produzida pelo Coletivo Negro se quer
intimista, um a um, por contatos visuais em busca de identificação,
vínculo, atravessamento. Por isso, seu público ideal está sentado ao redor,
muito próximo, e é sensorialmente afligido pela presença dos atores e
músicos. Na Mostra Cena Breve, o teatro de palco italiano,
frontal, impediu essa configuração do espaço, apenas parcialmente
solucionada com assentos improvisados para uma mínima parcela
dos espectadores formarem o círculo dentro do qual a cena é
performada.
Marcadores: 8ª
Mostra Cena Breve Curitiba, Coletivo
Negro, Raphael
garcia, Thais Dias
(Salloma Sallomão)
Coletivo Negro enriquece a cena cultural brasileira
Coletivo Negro- O silêncio de depois.
Para
assistir a peça “Movimento numero1: O silêncio de depois” produzida pelo
Coletivo Negro, no Auditório do SESI, eu
e minha família enfrentamos uma saga, mas chegamos na ponta sudeste da cidade.
A Vila das Merces, na geografia de São Paulo, fica entre as vias Anchieta e
Imigrantes. Tenho me dado a esse luxo, sorver teatro, música, dança e cinema a
preços baixos ou gratuitos no centro ou nos arredores da cidade e ianda vou com
todas as mulheres. Vejam que nem tudo aqui é anomia, caos ou desgoverno.
No
meio do caminho pra lá, ja perto da Casa de Cultura Chico Science tristemente
semi-abandonada, parelhei o carro ao lado de outro estacionado em uma praça,
queria pedir informação. O motorista se assustou, tive medo, um casal jovem e
negro namorava. Caso fosse um policial neurótico sem raça-cor e coldre cheio,
poderia ter sido facilmente alvejado por disparos. A
"corporação", para proteger o seu, faria o resto do serviço: montagem
de cena de confronto com pcc, armas nos corpos, testemunhas oculares seduzidas
pelo medo e uma matéria tosca e incriminadora
veiculada na baixa imprensa servil. "Sim ele tinha passagem".
Seriamos números do SEADE. Quem se importaria?
Calma!!!!! Esse não
é um pequeno artigo sobre o viver negro em São Paulo durante a guerra entre as milícias e as
gangues. É apenas um breve relato sobre um fragmento da Cena Cultural Negra em São Paulo. Quero
dizer que, meu texto pode ser lido como se nada tivesse a ver com racismo
violência e outras coisas desagradáveis ao público consumidor do
entretenimento.
O
COLETIVO NEGRO, é um grupo de teatro
composto por talentosos jovens negros (parece redundante, mas há teatro negro
sem negros) cujo tempo de existência trajetoria mais detalhada desconheço.
Formado por Aysha Nascimento, Flávio Rodrigues, Jefferson Matias, Jé Oliveira,
Raphael Garcia e Thaís Dias.
“A
peça do Coletivo Negro: “Movimento Número 1: O Silêncio de Depois...”, foi a
materialização cênica do projeto de pesquisa cênico-poético-racial intitulado:
“Quilombos Urbanos”, investigação essa que foi contemplada pelo governo do
Estado de São Paulo, por meio do PROAC (Programa de Ação Cultural) em 2010 e
teve em sua configuração a visita e troca de conhecimentos entre o Coletivo
Negro e o quilombo Ivaporunduva.” http://coletivonegro.blogspot.com.br/p/o-silencio-de-depois.
Um
pequeno, convencional e confortável Teatro de bairro, como eram antigamente o
Paulo Eiró e Martins Pena. Ou ao menos foi assim que os vi, ao fim do governo
Erundina. O ambiente bacana, sem tensão, muita gente igualmente amável, pouco
público. O formato arena foi criado apenas com disposição de duas fileiras de
bancadas para o público se sentar bem próximo, encima do palco. Cenário, luz e figurino módicos e
atuação monstro, texto idem. Ficamos bem perto dos atores, praticamente em
contato físico com eles, creio que não por acaso.
O
diretor e o escritor do texto estavam em cena, mas Jê Oliveira apenas operava o
computador que emitia os sons gravados, ruídos do trem. Considerando o frescor
dos anos, mano!!!!! O Jê Oliveira escreve bem pra caramba (me disseram que o
texto é dele!!!, mas no material de divulgação não se faz menção). Alguns
grupos tem a estratégia de diluir o protagonismo, talvez para reforçar o espírito associativo e não fomentar egos facilmente infláveis.
“Em 2007,
após a montagem do experimento cênico ‘Um longo caminho que vai de Zero à
Ene’, de Timochenko Wehbi, dentro do curso de direção da Escola Livre de Teatro
de Santo André. Jé Oliveira, diretor da experimentação, começa a fomentar junto
com os então artistas-aprendizes. A possibilidade de aprofundar a pesquisa que
tinham realizado para aquele trabalho, cujo pano de fundo era a invisibilidade
social.” Idem blog Coletivo Negro.
Essa
linguagem, dramaturgia, pra mim é um mistério, por isso meu fascínio, não sei
como orquestrar vozes, corpos, textos, luz, objetos, tudo para veicular algo
coerente. O que mais me encanta nessa cena é perceber que se trata é uma
juventude negra muito melhor que a minha. Melhor tecnicamente, melhor
artisticamente, melhor politicamente, embora alguns dilemas e cacoetes da
negritude das décadas passadas se repitam, insistentemente.
Então
vamos lá: O texto nem sempre desliza, mas não confunde nem cai, se sustenta,
segue e vai e no fim emociona mesmo. Difícil articular poeticamente cinco vozes
dissonantes e complementares, vozes negras arquetípicas. Voz- África mãe e
terra/memória, Voz-mulher negra/ventre livre, Voz-homem negro-traidor pai João,
Voz- homem negro-heroi Zumbi=rebeldia, Voz-Instrumentos/contrabaixo/tambores e
canto.
O
texto que é então uma polifonia começou a ser destrinchado ainda na porta,
durante a entrada do público. “O Silêncio depois”, nos quatro pontos do espaço
cênico quatro vozes coesas, uma bem forte, feminina, grave, majestosa e
máscula. Quem suportava essa voz? Sua dona era uma mulher, quase recém
menina, com cara de lua nova,
envelhecida pela personagem A Antiga, ou África mãe.
Tratar
a História não contada como corpos insepultos, nos remete a Walter Benjamim na
tradição ocidental e em cosmovisões bantus. Os defuntos sempre perturbam ou
ajudam os vivos. O tempo inteiro são os
mortos que destilam as varias faces do racismo anti-negro. A aguardente na
nossa boca, prenuncio da overdose etílica, quando pode vira vômito na cara da
sociedade. Quem tá disposto a isso? Sentar e ouvir tim-tim por tim-tim o “Negro
Drama”? Mas o texto não é sobre a dor da inconsciência negra, mas do papel
exercido pelos que se foram dessa concreta existência, “cemitério dos
vivos", para a kalunga eterna, a água dos mortos. Veja:
http://www.pucsp.br/ultimoandar/download/BrigidaMalandrino.pdf
Não
há linearidade no discurso, apenas previsibilidade no desfecho, embora sem fato
histórico especifico. O pano de fundo é a linha de trem, que para ser
instalada, precisa desalojar as precárias moradias e seus habitantes. Feliz
alusão a tantos e infelizes desalojamentos de negros e pobres para “passagem do progresso”, fato constante no
Brasil desde o século XIX.
O
desterro símbolo África, desterro sina Brasil contemporâneo, nós somos os
estranhos de porta adentro, uma recorrência do processo de desenvolvimento
econômico, exploração imobiliária e expansão urbana combinado com racismo
ambiental (brancos no centro), fenômeno estudado por várias perspectivas.
Raquel Rolnik, entre outros, foi pioneira no mapeamento e desvelamento desses
processos. http://raquelrolnik.wordpress.com/1989/09/16/territorios-negros-nas-cidades-brasileiras-2/
A
voz África mãe, corporificada na Atriz Thais Dias traz uma gestualidade que
insinua afro dança, mas ela apenas indica comedidamente, é mimese e não
coreografia. Esteticamente seria por demais óbvio, lugar comum nos grupos
iniciantes, essa foi uma ótima solução. Cumpre duplo papel de narradora e
personagem chave, sua construção é encantadora e compensa com sua performance,
a luz e figurinos ultra-econômicos ou quase precários.
As
vozes homens negros traidor e herói (têm pauta relativamente curta, cumprem o
exercício no jogo da bipolaridade, símbolo de consciência X alienação,
recriando os arquétipos mais rasos do enredo. Conquanto os atores sejam
excelentes e façam uma exploração bem limpa do texto, projetam, performam,
transpiram, se desdobram, mas comparativamente é pouco denso, têm pouco espaço
de manobra, porque o texto não permite.
Está
também lá o arquétipo mulher negra, corpo-samba, libido-sexualidade. Ao mesmo
tempo é ela a portadora da transgressão social do contato interétnico. Mas há
tembém a interdição e a queda inexorável. Aqui a bipolaridade negra-branco
se mantém também nos níveis mais elementares, nos enredos e desfechos
construídos durante a década de 1970, que eu também não sei se superamos na
vida real, muito menos na dramaturgia. N´so avançamos bastante na compreensão
da diversiadde negra, mas ianda não estender isso a complexidade dos bancos.
Que brancos são esses no Brasil? Perguntou um ilustre professor negro de Minas
Gerais, em uma banca de mestrado na UERJ. A sua questão dizia respeito
a necessidade de colocar no nosso repertório de perocuapações os estudos
sobre as branquitudes. As noções branca de pertencimento. Fora Lia Vianer,
chegaremos lá?
Aysha
Nascimento tem corporalidade delicadamente magra e quase fashion, a musculatura
é torneada e de pouco volume. Não é alta, mas esguia e tem um timbre contralto
de acento blues. Seu figurino é uma minissaia dourada de lantejoula e a blusa
preta brilhante. Bem cavada nas costas, a roupa deixa à mostra sua musculatura,
que vai dançando suave sob o decote. O batom leve no primeiro momento é depois
borrado para destacar a arcada dentária de propaganda de creme dental. Seus
ressaltados no quase choro é raivoso, mas impotente, algo muito diferente da
maioria das mulheres negras na vida real.
Essa
voz feminina traz carga de uma persona de ficção e de algum realismo, pode ser
ouvida e também lida como síntese de
certo romantismo feminino, que não ficou nas foto-novelas, nem nas revistas distribuídas
massivamente em bancas de jornal (Grande Hotel), para um público cuja leitura
prescindia do texto. Essa cultura de massa também construía idealização
masculina, obviamente o macho-branco, escolarizado, possuidor de bens e
possível facilitador de ascensão. É esse que a Rainha encontra e desmascara,
mas invés de revê-lo, se revela. Ela a ingênua rainha do carnaval. Ainda simula
a tipologia de Lima Barreto, Clara dos Anjos. É ela retinta e denegrida, mas
decaída na quarta feira de cinzas, chorosa e enganada.
Há
ressonância de um tipo especifico de discurso feminista-negro, cujo conteúdo
pode revelar várias camadas de mudanças e permanências sociais e culturais na
vida brasileira nas últimas décadas. Porém não é uma pesquisa de personagens
históricos reais, não é sociologia do "problema Negro",
sim criação de personagem-pretexto para uma narrativa cativante e bacana.
Duas
vozes-homens e duas vozes-mulheres, umas vozes baixo-canto-batuques e uma
cidade partida pela linha de trem, com casas à margem. Urbanidade é
proximidade, fricção, tensão e solidão. A plataforma de lançamento dos
contrastes entre os vários grupos de habitantes, cidade é uma tendência inexorável desde
Tombuctu e Genova do século XIV. Talvez desde lá, haja o fato da luta pela
reversão da dominação macha e o avanço do fantasma da solidão avassaladora que
cerca as mulheres em geral.
Os machos são de aventura e guerra, nos bastamos a nós mesmo,
porque ainda somos as medidas do mundo. Mesmo um macho negro, que fica na fila
social-racial atrás das mulheres brancas, ainda rosna viril. Cuidado comigo eu
tenho uma arma engatilhada.
Hoje
há circulando entre nós, na cidade e no país, felizmente, uma infinidade de
eventos, poemas, livros, canções e filmes produzidos nesses circuitos que redefinem as alteridades e os possíveis
afetos entre os seres humanos negros bem especificamente. Muitos atravessam a “linha da cor” e
arremessam brilhos regeneradores nos pontos mais salientes de nossas feridas e
também tocam nossos irmãos e irmãs não negros, criam e estimulam novas formas
de expressão e sociabilidade, convivência e civilidade.
Também
há eventos e textos que pairam nas "regiões mais abissais do
sentimento" de revanche, algumas vezes ainda veiculam discursos
predominantes de hiper-masculinidade e de homofobia. Uns outros, embora
oriundos de gente da pele negra, são bastante convencionais nos enredos e em
alguns casos carregados de tinta individualista-consumista e disseminadores de
misoginia. Vamos também silenciar sobre isso? Tem algum canto teatral para esse
tema?
Alguém
dentre nós se mostra contente, esperançoso e entusiasmado quando os
marqueteiros usam imagens de famílias convencionais (homem e mulher com duas
crianças) em propaganda de margarinas,
supermercado, controle de natalidade, bolsa família, empréstimo consignado. Só,
que invés de brancos, colocam pessoas
negras. Alguém pensa secretamente, agora podemos ser vistos. Algum amigo
solidário, mas um pouco alienado pergunta: mas as coisas não estão
melhorando?
Até
quando vamos, negros e brancos, nos esconder da discussão sobre os relacionamentos inter-étnicos? Até quando devemos aceitar que o debate fique
nos limites dos parâmetros da Miscigenação Apaziguadora, ou do perigo da
Diluição Racial dos Negros? Fora desse absolutismo étnico quase facista, como
deixar de reconhecer e valorizar a presença dos euro-descendentes nas fileiras
anti-racistas?
Pode
ser que a montagem cause algum choque aos brancos mais desavisados ou negros
complacentes, porque o release apresentado pelo SESI sequer faz menção a
questão racial. Verdade seja dita: esses
(as) jovens negros (as) criativos (as), corajosos (as) e organizados (as),
constroem novos patamares para identificação coletiva dos descendentes de
africanos no Brasil. Há nisso algo que os conecta as experiências do teatro
Experimental vai Guerreiro Ramos e Abdias
do Negro e do Teatro Popular proposto pelo Solano. Digo sao fios
delicados tecidos no sentido de uma auto-educação
política, social e cultural que viabilize nossa participação não subalterna
nesta sociedade.
Eles
e Elas do Coletivo Negro vão além de uma pedagogia sócio-cultural proposta nos
anos 1940, posicionam a pesquisa estética como norte e mantêm preocupações
políticas, mas ao que me pareceu, não abrem mão da reelaboaração, busca da
beleza, da delicadeza e da solidariedade. Isso aparece no texto, na forma e no
exemplo.
Vamos ao teatro? O texto é lindo, nos instiga,
desafia e estimula. Somos teatro e musica, letra e dança, somos vida, somos o
quisermos, somos negros sim. Descendemos do Deus Áfrico, Nzambi nos fez.
Fonte: http://mosaiconegrobras.blogspot.com.br
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