Por Mariana Grazini - mariana.grazini.rocha@usp.br
Em meio à necessidade de expandir a discussão em torno da
história e das raízes dos negros no Brasil, o grupo Coletivo Negro apresenta a
peça Movimento nº1: o silêncio de depois… no Teatro da USP (TUSP). A peça
retrata quatro personagens que sofrem uma desapropriação violenta para a
construção de uma linha férrea. A perda é um elemento comum a todos durante o
processo de desocupação, e é dessa forma que quatro histórias diferentes se
entrelaçam ao longo da apresentação.
A peça inova em seu cenário ao deixar de lado o palco e
montar bancos ao redor do espaço onde os atores se apresentam. Algumas luzes e
objetos também são manipulados em cena e as músicas e sons são todos feitos ao
vivo com instrumentos de percussão, violão e berimbau, entre outros.
ysha Nascimento é integrante do coletivo e tem na peça o
papel de questionar o estereótipo da mulher negra, quase sempre retratada de
forma exuberante na sociedade brasileira. Ela explica que, no processo anterior
à peça, o Coletivo Negro fez visitas à comunidade quilombola Ivaporunduva, do
Vale do Ribeira, em São
Paulo. “Essa pesquisa foi muito importante. Visitamos nossos
ancestrais, conhecemos as histórias deles e o que sobrou dessa resistência,”
diz Aysha.
A atriz esclarece que Movimento nº1: o silêncio de depois… é
atemporal e trata de seus personagens com um recorte racial. O projeto
originalmente seria chamado Quilombos Urbanos mas a escolha por “Movimento nº1”
simbolizou o pontapé inicial do coletivo e seu movimento contínuo. Já “o
silêncio de depois” serve para representar narrativas que já aconteceram em
quilombos, comunidades e favelas e que deixam como resquício o silêncio da
reflexão.
Coletivo Negro
Com atores da Escola de Arte Dramática (EAD) da USP e da
Escola Livre de Teatro de Santo André, o Coletivo Negro surgiu em 2008 de uma
pesquisa do integrante Jé Oliveira. Com a função de diretor nesse projeto de
pesquisa cênica, Oliveira resolveu abordar o assunto “Invisibilidade social”
para tratar da questão do negro, como sua invisibilidade econômica existe e
como ela é muitas vezes somente rompida com o aparecimento de casos de
criminalidade ou outras formas indesejáveis. Jefferson Matias e Thaís Dias,
dois dos atuais integrantes do Coletivo Negro, foram convidados a participar do
projeto de Jé Oliveira e foi esse o disparador do coletivo.
A partir disso, outros integrantes interessados na questão
da racialidade uniram-se ao grupo. Com a entrada de Raphael Garcia, Flávio
Rodrigues e Aysha Nascimento, o coletivo ganhou sua configuração atual com seis
participantes. “Formamos o Coletivo Negro com o intuito de pesquisar a
racialidade pelo viés poético e cênico”, completa Oliveira.
Para explicar o funcionamento do coletivo, Raphael Garcia
diz: “A gente trabalha com um conceito base de desierarquização. Todos são artistas
criadores e todos podem, em algum momento, ser dramaturgos, diretores, exercer
a função de atores e outras, paralelamente.” Quanto às funções de cada um na
peça, o ator aponta que, para projetos em vista como o Movimento nº2, as
funções podem se transformar, já que o “movimento” está tanto no nome do
espetáculo como na organização do coletivo.
Premiações e apresentações
O grupo já foi indicado nas categorias de Melhor Elenco e
Grupo Revelação para o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro no ano de 2011.
Além disso, o crítico de teatro, Sebastião Milaré, selecionou o coletivo para
participar do documentário Teatro e Circunstância produzido pela TV Sesc.
As apresentações no TUSP vão até dia 29 de novembro, às 21
horas das quartas e quintas-feiras. O TUSP fica na Rua Maria Antônia, 294,
bairro Consolação, em São Paulo , e a
bilheteria abre duas horas antes da apresentação. Os preços: R$20,00 e R$10,00
(meia entrada).
Foto: Pedro Bolle / USP Imagens
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