segunda-feira, 1 de abril de 2013

PESSOAS E PERSONAGENS


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       Março foi um mês de encontros. As primeiras possibilidades de personagens surgiram e começamos a dar carne e osso às nossas ideias. A sequência de cenas que apresentamos revela um pequeno mosaico de possibilidades narrativas que, se desenvolvidas, farão parte do nosso futuro espetáculo. Um carteiro; um menino; uma doméstica; um pai; uma dona de casa e um pedreiro surgem e querem contar suas histórias. Que relação existirá entre eles e o que suas vidas fictícias revelam sobre nossas realidades ainda não sabemos, não chegamos no território das certezas.
         “Negro, Macumba e Futebol”, livro que reúne três estudos publicados por Anatol Rosenfeld no anuário alemão “Staden Jahrbuch” na década de 50, foi base para discussões sobre as religiões africanas no Brasil; o negro; o futebol e a formação do imaginário nacional. Assistimos também ao filme espanhol “Noviembre”, dirigido por Achero Mañas; ao norte americano “Para Mulheres Negras”, dirigido por Tyler Perry e baseado na peça homônima de 1975, escrita por Ntozake Shange e ao inglês/francês "London River", dirigido por Rachid Bouchareb e protagonizado por Sotigui Kouyaté e Brenda Blethyn. Estes filmes proporcionaram discussões em torno dos limites entre a ética e a estética na arte; a capacidade humana de transcender as aparentes diferenças e levantaram questões sobre o que há de universal e particular na experiência de vida de mulheres negras nos E. U. A.
       “O que é digno de ser celebrado?”. Neste momento de reapropriação histórica que vivemos, nos fazemos esta pergunta e rumamos para as cenas que poderão nos dar algumas respostas. Como você já sabe, o homem comum é a nossa busca e ele deve nascer daqui a algumas semanas!! O roteiro que desenvolvemos com a casadalapa, para o nosso “Enquadrinho”, simboliza este nascimento. O surgimento deste homem, seus primeiros anos de vida e seus ritos de passagem. Ferreirinha, fundador do prédio que hoje abriga o “Condomínio Cultural Mundo Novo”; uma parteira; um médico; um(a) professor(a), um(a) aluno(a) são algumas das personagens que contarão suas vidas e registrarão suas existências.
           Neste período de ensaios, aulas e conversas também tivemos encontros com pessoas que já são importantes dentro dessa caminhada coletiva. Josy Rouse, atriz e pesquisadora licenciada em Teatro pela UNESP, chega junto ao Coletivo Negro pra desenvolver pesquisa teórica que avança nas questões sobre a presença do negro no teatro brasileiro. Além disso, já no fim do mês, assistimos ao espetáculo “O Líquido Tátil”, do Grupo Espanca!, de Belo Horizonte, e tivemos um encontro “massa” com a atriz, dramaturga e diretora Grace Passô, que é a nossa mais nova parceira e com quem a gente espera trilhar os mais criativos caminhos dentro deste projeto.
          Em busca de reflexões, finalizamos o mês com a leitura do texto “O presente como espaço”, de Milton Santos. Assim como o nosso mestre geógrafo, seguimos atentos às relações estruturais do mundo em que vivemos para, quem sabe, produzir uma arte que em AÇÃO, continue “Pensando o Espaço do Homem”.
                             
                                        Raphael Garcia/ Coletivo Negro
  

2 comentários:

  1. Que bom que vocês estão firmes e apaixonados pelo seu trabalho. Gostaria de lhes mandar um texto do Mário de Andrade, "O Artista e o Artesão". Vocês já o leram? É muito instigante para se pensar o que é e o que não é fundamental em arte, o que é ensinável e o que é descobrível (ensinável é do Mário de Andrade, descobrível é invenção minha, que acabei de inventar).
    Tive prazer em ver a trajetória de vocês. Só me enquizila esta "modernidade" (?) pleonástica do ator-pesquisador-criador. Vocês acham que caberia dizer um jogadordefutebol-atleta-saudável? Jogador que não for saudável e atleta competente nunca será um bom jogador. A mesma coisa para ator. Todo ator tem que se debruçar sobre o universo que ele vai recriar (= pesquisar), tem que criar seu personagem (= criador). Esta bobagem de "ator-criador" que tem sido usada me parece que pretende traduzir uma ligação necessária - e por vezes abandonada - entre o ator e sua criação. Uma contra-corrente do diretor-ditador-donodabola. Um excesso que ainda acontece e que precisa ser descartado.
    Mas tenho visto espetáculos que se pautam pela preocupação "ator-criador" (sic) e que acabam sendo uma carroça sem carroceiro, indo numa estrada que vai pra lugar nenhum.
    A academia é uma armadilha para a criação artística. Cuidado para não se deixarem levar pelo encanto de serem visivelmente "inteligentes". A inteligência do artista é a que preserva o sentido etimológico da palavra, é a que "lê entre". Não é a erudição teórica da academia. É bom estudar, é mesmo importante estudar - mas a alma humana, que é o que nos interessa, tem muitas maneiras de ser investigada.
    Parabéns a vocês e continuem firmes na busca.

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    1. Oi Ana!! Desculpe a demora em responder seu comentário!! Se possível manda pra gente no coletivonegro@hotmail.com o texto do Mario de Andrade!! É sempre bom se inspirar em gente tão boa! De fato faz todo sentido seu raciocínio sobre o pleonasmo do artista-pesquisador-criador...acabamos usando o termos até mesmo como negação de um modos hierárquicos de trabalho e reafirmação da potência do ator em todas as frentes possíveis. Enfim, como todos os termos, este também traz essa questão pertinente, mas por enquanto caminhamos com ele...Continuamos na busca e te esperamos sempre perto e trocando impressões! Quanto à inteligência...de fato estamos atentos a essa necessidade de fortalecer a bagagem teórica, mas com total consciência de que esse material deve servir pra abrir espaços de expressão e aguçar nossa sensibilidade para achar o "entre". Se ler essa resposta até sábado e puder, apreça na nossa mesa de discussão! a uma olhada na divulgação, bjão
      Raphael

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